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apertavam-n’o lentamente, fechavam-se sobre elle, e o separavam dos vivos, como um carcere que fosse subindo á roda de um homem. Tudo contra elle, nada a favor delle; estava isolado, abandonado, minado, esquecido.

Gilliatt tinha esgotado as provisões, as ferramentas já estavam usadas, a sede e a fome de dia, o frio de noite, feridas e andrajos, vestidos rotos cobrindo suppurações, buracos nas roupas e na carne, mãos dilaceradas; pés sangrentos, membros magros, rosto livido, uma flamma nos olhos.

Flamma soberba essa, era a vontade visivel. O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por elle a virtude. A nossa pupilla diz que quantidade de homens ha dentro de nós. Affirmamo-nos pela luz que fica debaixo da sobrancelha. As pequenas consciencias piscam o olho, as grandes lançam raios. Se não ha nada que brilhe debaixo da palpebra, é que nada ha que pense no cerebro, é que nada ha que ame no coração. Quem ama quer, e aquelle que quer relampeja e scintilla. A resolução enche os olhos de fogo; admiravel fogo que se compõe da combustão dos pensamentos timidos.

Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quasi todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra:—Perseverando. A perseverança está para a coragem