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vem as religiões. Nada é tão oppressivo como uma crença sem delineamento.

Qualquer que seja o pensamento e a vontade, qualquer que seja a resistencia interior, olhar a sombra, não é olhar, é contemplar.

Que fazer desses phenomenos? Como mover-se debaixo de sua convergencia? É impossivel decompôr esta pressão. Que devaneio se deve ajuntar a todos esses confinantes mysteriosos? Quantas revelações abstrusas, simultaneas, obscurecendo-se em sua propria multidão, especie de balbuciar do verbo! A sombra é um silencio: mas esse silencio diz tudo. Surge magestosamente um resultado: Deos. Deos é a noção incomprehensivel. Essa noção está no homem. Os syllogismos, as querellas, as negações, os systemas, as religiões, passam por cima sem diminuil-a. A sombra inteira affirma aquella noção. Mas turva-se tudo o mais. Immanencia formidavel. A inexprimivel harmonia das forças manifesta-se pelo equilibrio dessa obscuridade. O universo pende; nada tomba. O deslocamento incessante e desmedido opera-se sem accidente e sem fractura. O homem participa deste movimento de translação e á quantidade de oscilação que supporta, chama elle destino. Onde começa o destino? Onde acaba a natureza? Que differença ha entre um acontecimento e uma estação, entre um pezar e uma chuva, entre uma virtude e uma estrella? Uma hora não é uma onda? Continúa o movimento da roda, sem responder ao homem, em sua revolução impassivel. O céo estrellado é uma visão de rodas, de pendulas e de contra pesos. É a contemplação suprema,