Gilliatt acordou porque o clarão atravessou-lhe as palpebras fechadas.
Acordou a tempo.
A maré tinha descido; começava a encher de novo.
O cano da machina, solto durante o somno de Gilliatt, ficou outra vez preso no casco do navio.
Subia lentamente.
Mais palmo e meio e o cano estaria dentro da Durande.
Para isso ainda havia meia hora. Gilliatt se quizesse aproveitar a occasião tinha essa meia hora diante de si.
Levantou-se sobresaltado.
Por mais urgente que fosse a situação, elle não pôde deixar de ficar alguns instantes de pé, contemplando a phosphorescencia e meditando.
Gilliatt conhecia o mar a fundo. Embora tivesse sido muito maltratado por elle, o mar era já de muito tempo companheiro de Gilliatt. Aquelle ente mysterioso que se chama oceano, não podia ter nenhuma idéa que Gilliatt não a adevinhasse. Gilliatt, á força de observação, de scisma e de solidão, tornára-se um vidente do tempo, aquillo que se chama em inglez um wheater wise.
Gilliatt correu ás amarras e guindou-as; depois já não estando retido pelas ancoras, travou do croque da pança, e apoiando-se nas rochas affastou-a para fóra algumas braças distante da Durande perto do tapamento de taboas. Havia rang, como dizem os maritimos de Guernesey. Em menos de dez minutos a pança estava fóra do casco. Já não havia receio de que o cano podesse ficar preso.
Entretanto Gilliatt, não se mostrava disposto a partir.