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Aquelle maravilhoso palacio do abysmo, bordado e incrustado de todas as pedrarias do mar, revellava por fim o seu segredo. Era um covil, a pieuvre morava ahi; e era uma tumba, ahi jazia um homem.

A immobilidade espectral do esquelleto, e dos molluscos oscilavam vagamente, por causa da reverberação das aguas subterraneas que tremia naquella petrificação. Os carangueijos, mistura medonha, pareciam ter acabado a sua refeição. Aquellas cascas pareciam comer aquelle esqueleto. Nada mais estranho do que aquella bicharia morta, sobre aquelle homem finado Sombrias continuações da morte.

Gilliatt tinha diante de si, o armario da pieuvre.

Visão lugubre, donde surgia o horror profundo das cousas. Os carangueijos tinham comido o homem, a pieuvre tinha comido os carangueijos.

Não havia nenhum resto de roupa ao pé do cadaver. O homem devia ter sido agarrado nú.

Gilliatt attento e examinando, começou a tirar os carangueijos de cima do homem. Quem era esse homem? O cadaver estava admiravelmente dissecado. Dissera-se uma preparação de anatomia; toda a carne estava eliminada; já não restava nenhum musculo. Se Gilliatt fosse do officio reconheceria isso. Os periostios estavam brancos, polidos e como que lustrados. Sem alguns filamentos verdes que apareciam aqui e alli, seria marfim puro. As divisões cartilaginosas, estavam delicadamente affiladas. A tumba faz essas joalherias sinistras.