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O luar projectava no chão, fóra das moutas, e ate ao banco, uma sombra.

Gilliatt vio essa sombra.

Olhou para Deruchette.

Ella estava pallida. A boca entre aberta esboçava um grito de surpreza. Levantou-se um pouco do banco, tornou a sentar-se; havia na sua attitude, uma mistura de fuga e de fascinação. O seu pasmo era um encanto cheio de receio. Tinha nos labios quasi a irradiação do sorriso, e um reflexo de lagrimas nos olhos. Estava como que transfigurada por aquella presença. Não parecia que a creatura alli chegada fosse da terra. Havia no olhar de Deruchette a reverberação de um anjo.

A pessoa, que era apenas um sombra para Gilliatt, fallou em fim. Sahio das moutas uma voz, mais doce que uma voz de mulher, e voz de homem comtudo. Gilliatt ouvio estas palavras:

Vejo-a todos os domingos e quintas-feiras; disseram-me que outr’ora a senhora não ia lá tantas vezes. Fizeram este reparo, peço-lhe perdão. Nunca lhe fallei, era o meu dever; fallo-lhe hoje, é meu dever. Antes de tudo devo dirigir-me á senhora. O Cashmere parte amanhã; foi por isso que eu vim. A senhora passeia todas as noites neste jardim. Eu fazia mal em conhecer tanto os seus habitos se não tivesse o pensamento que tenho. A senhora é pobre. Eu sou rico desde esta manhã. Quer-me por seu marido?

Deruchette ajuntou as duas mãos como uma supplicante, e olhou para aquelle que fallava, muda, olhar lixo, tremula da cabeça aos pés.

A voz continuou: