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uma das costas visinhas do ancoradouro do navio. Achava-se em todas as angras bateleiros á vontade.

A Angrazinha era dessas. Aquelle cáes ficava proximo á cidade, mas tão solitario, que parecia longe. Devia a solidão ás duas grandes penedias do forte de S. Jorge que dominavam aquelle sitio discreto. Chegava-se á Angrazinha por caminhos diversos. O mais directo ia pela praia; tinha a vantagem de ir dar á cidade e á igreja em cinco minutos, e o inconveniente de ser coberto pela maré duas vezes por dia.

Outros caminhos, mais ou menos abruptos, mergulhavam nas anfractuosidades dos rochedos. A Angrazinha, mesmo em pleno dia, ficava numa penumbra. Grandes pedras amontoadas pendiam de todos os lados. Haviam espessuras de espinhos, fazendo uma especie de noite suave naquella desordem de rochas e vagas; nada mais aprazivel do que aquella angra em tempo calmo, nada mais tumultuoso nas grossas aguas. Haviam pontas de galhos perpetuamente molhados pela escuma. Na primavera ficava cheia de flôres, ninhos, perfumes, aves borboletas e abelhas. Graças aos trabalhos recentes, essa selvageria já não existe; foi substituida por bellas linhas rectas; ha obras de pedreiro, cáes, jardins; tudo foi derrubado; o gosto destruio as extravaganeias da montanha e a incorrecção dos rochedos.