Litteratura destaquei com força de sua obra varia e dispersiva e de seu genio contradictorio e multiplice o que é verdadeiramente superior—o talento elegiaco, anda agora, dizia, elevado á categoria de verdadeiro mytho.

Já não é mais o pandego bohemio, o desregrado Bocage carioca a espalhar pornographias e bregeirices por toda a gente ; passou a ser um irremediavel choramigas, misero desgraçado, que chegou a cantar modinhas ao tom do violão por necessidade de matar a fome !

Nem tanto ao mar nem tanto á terra : nem o bohemio deslavado, nem esse pobre mendicante a esmolar a compaixão. Laurindo, como todos os grandes talentos poeticos, era uma natureza complexa, que se não deixa explicar por essas rhetorices que ahi andam a pregar aguias com alfinetes.

Laurindo, que nunca foi mulato, senão muito bom cigano, tinha aptidões desencontradas.

Orador, poucos o foram no Brasil como elle; repentista, só a Moniz Barretto cedia a palma; causeur, ninguem o sobrepujou n’esta terra; satyrico, nenhum o foi tanto desde Gregorio de Mattos; brincalhão, basta ver suas poesias comicas ou dubias e suas inimitaveis pornographias; elegíaco e magoado, quem não o acreditará lendo—Adeus ao mundo e Saudade branca ?

Este foi o homem a quem se uniu Constantino Gomes, talento de molde diverso e indole contraria.

A musa de Constantino tinha as roupagens semi-classicas da poesia bahiana da pleiade de Moniz Barretto. Isto a principio. Depois o independente sergipano foi reagindo e revelando suas qualidades proprias, bem apreciaveis n’aquolle bellissimo hymno que começa :

«Meu inverno se avisinha,
Sem risos, sem luz, sem flôr ;
Vem tu, mimosa andorinha
Da primavera de amor,
Vem mitigar-me a saudade
D’aquella ditosa idade
Que nos embala e entretem
Num berço de mil delicias,
Entre gozos e caricias,
Que da vida aurora tem.»

XV