36
SYLVIO ROMERO



Parece a neblina levada do vento,
Da noite ao relento
Phantasma que a mente costuma sonhar !

Lá corre ligeira…
Talvez feiticeira
Quem sabe si o é?
Mas eil-a cançada, que agora parando,
Medita scismando
Ao longe—de pè !

Das estrellas á luz frouxa, escaça
Mais se eleva e medonha se exalça
Nas trevas a sombra que surge acolá !
Cheguemos ao perto…—Meu Deus que mysterio !
Emblema funereo
De negros pezares acaso será ? !

Ai ! pobre menina !
Gentil peregrina
Desprende o teu véo !
Estatua não falla : seus labios abertos
Murmuram concertos
Dos anjos do céo !

Tem a face sem cor desmaiada,
Meiga rosa talvez desbotada
Em lubricos gozos de immundo prazer !
Dos olhos o lume tão languido, escaço,
Vagueia no espaço
Buscando as estrellas que avista sem vêr !

Coitada ! que vida !
Tão moça perdida
Dos annos na flor !
Oh pallida sombra de virgem serena !
Incauta açucena,
Tu morres de amor ?…