Em que a sciencia da vida é a credulidade.
Vês tudo azul e em flôr; eu já me não illudo.
Pois amar cortezãs! isso demanda estudo,
Não vai assim, que as tais abelhitas do amor
Correm de bolsa em bolsa e não de flôr em flôr.


CLEON.

Mas não as amas tu?


LYSIAS.

                        De certo... á minha moda;
Meu grande coração co’os vicios se acommoda;
Sacrificios de amor não sonha nem procura;
Não lhes pede illusões, pede-lhes só ternura.
Não me empenho em achar alma ungida no céu:
Se é crime este sentir, confesso-me, sou réu.
Não peço amor ao vinho; irei pedil-o ás damas?
D’ellas e d’elle exijo apenas estas chammas
Que ardem sem consumir, na pyra dos desejos.
Assim é que eu estimo as amphoras e os beijos.
Lá protestos de amor, eternos e leaes,
Tudo isso é fumo vão. Que queres? Os mortaes
Somos todos assim.


CLEON.

                        Ai, os mortaes! dize antes
Os philosophos máos, ridiculos pedantes,
Os que não sabem crer, os fartos já de amores,
Esses, sim. Os mortaes!