Transpôz o obscuro lago e soffre a pena justa,
Mas eu não. Antes de ir ás regiões infernaes
São as graças commigo Eumenides fataes!


MYRTO.

Caprichos de poeta! Amor não falta ás damas;
Damas, tem-las aqui; inspira-lhe essas chammas.


CLEON.

Impõe-se leis ao mar? O coração é isto;
Ama o que lhe convem; convem amar a Egistho
Clytemnestra; convem a Cyntia Endymião;
É caprichoso e livre o mar do coração;
De outras sei que eu houvera em meus versos cantado;
Não lhes quero... não posso.


MYRTO.

                     Ai, triste enamorado!


CLEON.

E tu zombas de mim!


MYRTO.

                        Eu zombar? Não; lamento
A tua acerba dôr, o teu fatal tormento.
Não conheço eu tambem esse cruel penar?
Só dous remedios tens; esquecer, esperar.
De quanto almeja e quer o amor nem tudo alcança;
Contenta-se ao nascer co’ as auras da esperança;
Vive da propria mágoa; a propria dôr o alenta.