LYSIAS.

Serei menos fiel, não sou menos amante.
Cada belleza em si toda a paixão resume.
Pouco me importa a flôr; importa-me o perfume.


MYRTO.

Mas quem quer o perfume afaga um pouco a flôr;
Nem fere o objecto amado a mão que implora o amor.


LYSIAS.

Offendo-te com isto? Esquece a minha ofensa.


MYRTO.

Já esqueci; passou.


LYSIAS.

                        Quem falla como pensa
Arrisca-se a perder ou por sobra ou por mingoa.
Eu confesso o meu mal; não sei tentear a lingua.
Pois que me perdoaste, escuta-me. Tu tens
A graça das feições, o summo bem dos bens;
Moça, trazes na fronte o doce beijo de Hebe
Como um philtro de amor que, sem sentir, se bebe,
De teus olhos destilla a eterna juventude;
De teus olhos que um deus, por lhes dar mais virtude,
Fez azues como o céu, profundos como o mar.
Quem taes dotes reune, ó Myrto, deve amar.


MYRTO.

Fallas como um poeta, e zombas da poesia!