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Junto ao velho portão o vate aguarda;
          Pendem-lhe as tranças soltas
          Por sobre as rôxas vestes.
Risos não tem, e em seu magoado gesto
Transluz não sei que dôr occulta aos olhos;
— Dôr que á face não vem, — medrosa e casta,
Intima e funda; — e dos cerrados cilios
          Se uma discreta e muda
Lagrima cahe, não murcha a flôr do rosto;
Melancolia tacita e serena,
Que os échos não acorda em seus queixumes,
Respira aquelle rosto. A mão lhe estende
O abatido poeta. Eil-os percorrem
Com tardo passo os relembrados sitios,
Ermos depois que a mão da fria morte
Tantas almas colhera. Desmaiavão,
          Nos serros do poente,
          As rosas do crepusculo.
«Quem és? pergunta o vate; o sol que foge
«No teu languido olhar um raio deixa;
«— Raio quebrado e frio; — o vento agita
«Timido e frouxo as tuas longas tranças.
«Conhecem-te estas pedras; das ruinas
«Alma errante pareces condemnada
«A contemplar teus insepultos ossos.