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olinda a alzira
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De eguaes em forças, sem perder coragem,
Nenhum de nós cedeu, bem que durasse
Algumas horas o combate accezo:
Mas da noute feliz o longo manto
Que os mysterios de amor commette ás trevas,
Com roseos dedos a invejosa Aurora
Cruel abrindo, fez dentro em meu peito
A escuridão entrar, que em torno tinha,
Foi-me odiosa a luz, que affugentava
De mim com o amor perennes delicias.

Uma e outra vez Amor tem facultado
Ao constante Bellino, á terna Olinda
Outros, como estes, prosperos momentos:
São de tormento para mim os dias
Que tel-o junto a mim debalde busco:
Para elle o tempo que sem ver-me gasta,
Figura-lhe de um seculo a distancia.
Já Hymeneu houvera de enlaçar-nos,
Se o mundo, Alzira, o mundo, que não cuida
Senão em machinar sua ruina,
De longo tempo não tivesse urdido
Iniquas tramas, horridas ciladas.
Que ao homem (digno premio de sua obra)
Barreiras põe na estrada da ventura.
Retrocede o infeliz d'um a outro lado,
Negras voragens ante os seus passos
Tropel de Furias, que comsigo arrasta,
Filhas do Erro, que animou insano,
A Fortuna, que foi comigo larga,
Negou seus dons a meu querido amante.