Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/173

169

   De pallidez cobriu-se-lhe o semblante,
Ouviram-se ao redor gritos immensos
Da turba feminil, pouco constante.
   Ternos suspiros pelos ares densos
Vão abraçar o seu cadaver frio,
Cobrem-se os olhos de engomados lenços.
   Cortou a Parca d’esta vida o fio,
O esp’rito nú, da carne desatado,
Lá vai cruzando o lutulento rio.
   Oh dia com razão amargurado!
Em quanto nos lembrar tão triste imagem,
Sempre serás dos bons tafues chorado.
   Cobrir tu viste com pesada lagem
Aquella que nos fez o beneficio
De nos dar uma casa d’estalagem.
   Ninguem soube melhor do seu officio;
Nem se achára tão destra alcoviteira
Sómente com trinta annos d’exercicio.
   E vós, mulheres, que gostais d’asneira,
Honrai as suas cinzas, os seus ossos,
E respeitai-lhe a funebre caveira.
   A morte dá nos velhos e nos moços;
Ninguem se escapa da carranca feia
Depois de preso em seus calabres grossos.
   Conservai pois esta fatal idéa,
E rodeando o corpo desditoso,
Accendei cada qual uma candêa,
   E fazei-lhe um sepulchro apparatoso.