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No mendigo, que deprime.
—N’este dou com dupla força,
Té que a manha perca ou torça.
Fujo ás leguas do logista,
Do beato e do sachrista
Crocodilos disfarçados,
Que se fazem muito honrados,
Mas que, tendo occasiao,
Sam mais feros que o Leão.
Fujo ao cego lisongeiro,
Que, qual ramo de salgueiro,
Maleavel, sem firmeza,
Vive á lei da natureza;
Que, conforme sopra o vento,
Dá mil voltas n’um momento.
O que sou, e como penso,
Aqui vai com todo o senso,
Postoque já veja irados
Muitos lorpas enfunados,
Vomitando maldiçóens,
Contra as minhas reflexoens.
Eu bem sei que sou qual Gryllo
De maçante e máo estylo ;
E que os homens poderosos
D’esta arenga receiosos
Ham de chamar-me—tarello,
Bóde, negro, Mongibello ;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bóde
Pouco importa. O que isto póde?
Bódes ha de toda a casta,
Pois que a especie é muito vasta. . .
Ha cinzentos, ha rajados,
Bayos, pampas e malhados,
Bódes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,