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Vejo fidalgos d’estopa,
Ostentando os seus brasoens,
Feio enxerto de dobroens
Nos troncos da fidalguia;
Vejo este mundo ás avessas,
Seguindo fatal derrota,
Em quanto farfante arrota
Podres grandezas de um dia!

Bronzea estatua—o rico surdo
Aos tristes ais da pobreza
Amostra com vil rudeza
Uma burra aferrolhada;
Manequim de estupidez
No orgulho vão da cubiça
Tem por divisa sediça
—Alguns vintens e mais nada.

O poder é só dos Cresos,
A sciencia é de encommenda;
Sem capital e sem renda
Com pouco peso—o que val?
Talentos--palavroens ócos!—
Que nunca deixaram saldo;
Não ha substancia no caldo
Que não tempera o metal!

Sisudez... que feia masc’ra!
Isso é peste, isso é veneno!
Si é pobre, nasceu pequeno,
Quem aspira a posição?!
Não vê que é grande toleima
Querer subir sem moeda,
Pois não escapa da queda
Quem teve um leito no chão!

Que se impertigue enfunado
Algum sandeu que traz marca. . .