Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/138

-134-

E depois, quando chega a ser doctor,
Se transforma em sediço adulador;
Permuta a consciencia por dinheiro,
E se faz, do Governo, fraldiqueiro:
Não te espantes, Leitor, d’esta mudança,
São milagres da Deusa da pitança.

Se vires um tratante ou embusteiro,
Com tretas, illudindo ao mundo inteiro,
A todos atirando horrendo bòte,
Sem haver quem o coce a calabrote;
Se vires o critério despresado,
O torpe ratoneiro empoleirado,
Orelhudos jumentos—de gravatas,
E homens de saber a quatro patas:
Não te espantes, Leitor, da barbaria,
Que é Deusa do Brasil a bruxaria.

Se dormem de bolor encapotadas,
Roidas do gusano, esfarrapadas,
Nossas Leis, sentinellas vigilantes
D'empregados remissos e tratantes;
Se o Jury criminal, da nossa terra,
Postergando o direito, sempre aberra
Punindo com rigor pobres mofinos,
E dando liberdade aos assasinos:
Chiton, pio Leitor, não digas nada—
A Lei, cá no Brasil, é patacoada.

Se perluxo e dengoso magaréfe,
Com passinhos de dança,tèfe-téfe.
Entre as damas pretende ser Cupido,
Mas, chupando cudilho, sahe corrido;
Se um varão de corôa, digo, Padre,
Por obra do divino, c’o a comadre,
Fabrica seu filhinho, por brinquedo,
Empinge no marido—psio !... segredo!