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E’ que sobre o sachrista mais constante
Imperam os decretos de Tonante.

Se o pobre, do trabalho extenuado,
N’um dia de prazer fica monado;
E a ronda, que tropeça e cambaleia,
Encaixa o míserando na cadeia;
Se fortes Brigadeiros, Coronéis,
Habitam as tabernas, e hoteis;
A gente do bom tom, os Deputados,
Se torram e nao sam encarceírados:
E’ que a pinga, entre nós, está vedada
A'quelles que não teem góla bordada.

Se o maçante orador, estuporado, '
Ardendo por chupar seu—apoiado,
Excita o appetite á parceirada;
Com sediça modestia enfumaçada
E, depois, diz que a rosa tem perfume,
Que esvoaça de noite o vagalume,
Que o tabaco se toma pelas ventas,
E que as coisas benzidas ficam bentas:
E’ que a fòfa sandice, os disparates,
Empanturram a casa dos orates.

Se um tôlo aparvalhado sem juízo,
Se arvora em litterato, d’improviso,
Arrota erudição—em pleno dia
Esbarra de nariz na orthographia;
E outros que nas lettras sam mofinos,
Vão mostrando ao pateta os desatinos,
Curvando-se as proverbio, mui sabido,
Que o farrapo se ri do descosido:
E’ que os cegos nao andam pelos nobres,
Mas seguros á mão dos outros pobres,

Se o homem que nasceu p’ra sapateiro,
E em direito, pretende ser Guerreiro,