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Sovelando de rijo no Lobão,
—Ferra o dente na velha Ordenação;
Se o lorpa que nasceu para jumento,
Não tendo cinco réis de entendimento,
Banido da sciencia, bestalhão,
Por força do dinheiro, sahe Barão:
E’ que a honra, a virtude, a intelligencia,
Não passam de estultícia ou vil demencia.

Se erudito doctor, filosophal,
Querendo dar noções do animal,
Nos demonstra que a pata põe o ovo,
E d’elle brota o pinto, ainda novo;
Que segundo os regimens da natura,
Differe do cavallo na figura;
E mettido entre a cruz e a caldeirinha
Vai dar co’a explicação lá na cosinha;
E’ que o nescio chegou a sabichão
Por milagre da santa protecção.

Se torto alambasado palrador,
Mais tapado que xucro borrador,
Tosto embroglio tecendo impertinente,
De camello, que era, se faz gente;
E cansando os humanos com sandices,
Por verdades impinge parvoices;
Já roncando saber, qual tempestade,
Ser nas lettras pretende potestade,
E’ que o nescio, coitado, não trepida,
Sobre os ares formar petrea guarida.

Se esquentado patóla ás Musas dado,
Vai, a esmo, trovando sem cuidado;
E cedendo aos arrobos do talento,
Mais rapido se faz que o rijo vento;
E os pólos devassando mui lampeiro,
Sustenta que Neptuno foi barbeiro;