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Eramos dois — seus cuidados,
Sonhos de sua alma bella;
Ella a palmeira singela,
Na fulva areia nascida.
Nos roliços braços de ebano
De amor o fructo apertava,
E á nossa bocca junctava
Um beijo seu, que era vida.

Quando o prazer entreabria
Seus labios de roixo lirio,
Ella fingia o martyrio
Nas trevas da solidão.
Os alvos dentes nevados
Da liberdade eram mytho,
No rosto a dor do afflicto,
Negra a côr da escravidão.

Os olhos negros, altivos,
Dous astros eram luzentes ;
Eram estrellas cadentes
Por corpo humano sustidas.
Foram espelhos brilhantes
Da nossa vida primeira,
Foram a luz derradeira
Das nossas crenças perdidas.

Tam terna como a saudade
No frio chão das campinas,
Tam meiga como as boninas
Aos raios do sol de Abril
No gesto grave e sombria
Como a vaga que fluctua,
Placida a mente — era a Lua
Reflectindo em Ceos de anil.