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Sahe o marido, coitado,
Pela esposa fulminado,
Vai á loja da Madama,
Que é modista d’alta fama,
Compra leques, luvas, cheiros,
Traz comsigo seis caixeiros,
Carregados de chocalhos,
Que não valem cascas d’alhos,
E, de amores transportado,
Sem se-ver pobre e pellado,
Chama a Eva portentosa,
Que vem toda vaporosa,
De cabello esparralhado,
Vestido longo arrastado,
Bocejando com desdem,
Como quem mil contos tem.
Ergue os olhos molemente,
Encara o pobre demente,
E, com ar de gran Sultana,
Brada ao tal José-Banana:
“Inda aqui nao vejo tudo!
“Que é da capa de velludo ?
“0 vestido de chalim?
“0 toucador de marfim?
“O corpinho decotado?
“O mantellete bordado.
“Pois hei de ir ao Cantante
“Sem pulseira de brilhante?
“Ande. Vá buscar o resto,
“Que, se nao, já lhe protesto,
“(Isto diz rufando as patas)
“De o-mandar plantar batatas !..."

E que tal, meu Gedeão,
Te-parece este sermão ?

Vou casar-me, quanto antes,
Para ter d’estes instantes.