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Com rotunda prosapia, mal cabida,
Contando-se feliz, cá nesta vida,
Boceja indifferente—Que um programma
E’ cousa mui sediça e já sem fama;
Que os Lynces— Litteratos de luneta—
Argonautas de chelpa na gaveta,
Fidalgos mais que os Reis do mundo inteiro,
Áltivos, como gallos de terreiro,
Exhibem, de improviso, os pensamentos,
Saltitantes, luzentes como tentos,
Lançados sobre a meza do gamão,
De annoso Boticario fanfarrão;
E que, apenas pisando o chão da praça,
A’ luz do sol a-pino, sem fnmaça,
Ao som dos atabales dos Jornaes
Dos amigos—irmãos universaes—
Do famoso congresso decantado
Do Elogio Mutuo conflado,
Recebem as pancarpias redolentes,
Com que zombam das turbas maldizentes ! ...
Mas isto nada prova, e tenho visto,
Se não que judas houve, e vendeu Christo ;
Que ha birbantes, charlatas de casaca,
Que impingem óvos podres á pataca ;
Que o silencio sagaz, que a velhacada,
São obras de Tartufo ou de empalmada;
Que o homem de verdade, sem refólhos
Tudo faz por pregão, á vista d’olhos.
Isto posto, sustento, sem detença,
Embora velha seja tal sentença,
Que por mais que se queira contestar,
Um prologo, por fim, tem seu lugar.




O prefacio, no Livro, é como a sopa,
Vem na frente, e prepara sempre a bocca;
E' garrida vedeta, mui lampeira,
Seductora, risonha e feiticeira;