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Que fique a lusa mão em seu delirio
—Já que o corpo manchou, manchar a gloria!
Respeitemos as cinzas do guerreiro
Que no pó sacudira a altiva fronte !
Quem sabe esse mysterio segredeiro
Do sol lá no horizonte?!

Não se vendeu ! infamia!.. era um escravo !
Sentiu o stygma vil, horrendo sello;
Pulsou-lhe o coração, viu que era um bravo;
Quiz despertar do negro pesadello!
Tronco sem folhas triste e solitario,
Debalde o vento assoberbar tentou ;
Das azas do tufão ao sopro vário
Estremeceu—tombou!

Paz ao sepulchro! Calabar morreu !
Sobre o tópo da cruz falla a verdade;
Quiz ser livre tambem—elle escolheu,
Entre duas prisões quiz ter vontade!
E a mão heroica que susteve a Hollanda
A covardia entrega desarmada !...
Vergonha eterna a Providencia manda
A’ ingratidão manchada!

Morreu! mas lá no marco derradeiro
O coração de amor bateu-lhe ainda!
Minha mãi, murmurou. . .era agoureiro
Esse queixume de uma dôr infinda!
Morreu, o escravo se desfez em pó...
Ferros lançai-lhe agora, si o podeis!
Vinde tyrannos—ella está bem só,
Dictai-lhe agora leis!

1850.