Eis o negro corsel relincha ovante,
Escutando o clarim na metralhada !...
Acompanhai-o—que elle está diante,
Marca-lhe o rumo a ponta de sua espada.
Vai seu caminho, heróe da liberdade,
Audaz guiando a marcial cohorte!
Manda o canhão seu nome á eternidade
—Da metralha senhor, rival da morte!
Sabem-lhe a vida ardente—essa epopéa,
Com sangue escripto ao trom da artilharia,
Nas planicies—nos montes—sobre a arêa,
Ou nos mares á voz da ventania!
Magestoso, na frente da columna,
Tremúla heróica a nacional bandeira ;
De seu cavallo á cauda ata a fortuna,
Leva no braço a gloria prisioneira.
Roja ancioso pelo solo raso
Soldados, generaes, c'rôas e sceptros!
Enviado de Deus—filho do acaso
Seguem-lhe turbas de milhões de espectros!
Vem dos ferros, do exilio, da prisão,
Dos cemiteirios, da masmorra escura,
—De Veneza, de Roma, de Milão—
Querem na patria ao menos sepultura !
Este é a triste mizeria, aquelle a fome;
Este a ambição cahida, aquelle a dòr;
Este a saudade que o sepulchro some ;
Aquelle a sombra de um perdido amor!
Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/209
- 205 -