Então o sol surgindo feiticeiro,
Entre nuvens de cores recamadas,
Segredava mysterios!
Como era verde o florejar das veigas
Brandinha a viração, murmura a fonte,
Meigo o clarão da lua, a estrella amiga
Na solidão do Céo! ?
Que sedes de querer, que amor tão sancto,
Que crença pura, que ineffaveis gozos,
Que venturas sem fim, calcando ousado
Humanas impurezas!
Deus sabe—si por ella em sonho extranho
Á divagar sem tino em loucos extasis,
Sonhei, penei, vivi, morri d’amores ? !
Si um quebro fugitivo de seus olhos
Era mais do que a vida em plaga edenica,
Mais do que a luz ao cego, o orvalho ás flores,
A liberdade ao triste prisioneiro,
E a terra da patria ao foragido ! ! !
Mas ai—tudo morreu!...
Seccou-se a relva, a viração calou-se,
Os queixumes da fonte emmudeceram,
Mórbida a lua só pratêa lousa,
A estrella amorteceu, e o sol amigo
No verde-negro seio do oceauo
Chorando a face esconde!
Meus amores talvez morreram todos
Da lua no clarão que eu entendia,
N’essa restea do sol que me fallava,
Que tantas vezes me aqueceu a fronte !
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