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Conservou a mão da sorte;
Tu revives na lembrança,
Como as flores da esperança
Sobre a cruz—depois da morte.

Foste rainha—o teu sceptro
Estes campos dominou;
Mas veio um dia—poisou
Nas praias um negro espectro!
No leito do captiveiro
Entre os braços de um guerreiro
Veneno e goso bebeste!
Sobre o seio adormecida
N’aquelle engano da vida,
Dormiste, mas não morreste !

Oh! que riquesa sem fim!
Oh que bulicio sem par!
Tiveste grandeza assim,
—Ouro e prata a deslumbrar!
A mão do fado infeliz
Ver-te nua um dia quiz
Só com tuas penas—mas nada!
Como tu és linda agora,
Banhando-te á luz da aurora,
N’aquella vaga asulada? !

Agora sim como brilha
O teu cinto de verdura?!
Dos bosques mimosa filha
Que viço na face pura!
A sombra d’este arvoredo
Como se conta um segredo
Baixinho—na voz das selvas!
Que mysterio lá nos ares!
Oh que saudade nos mares!
Oh que perfumes nas relvas !