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Esganiça o pescoço longo-estreito,
Em linha poem os teus animalejos,
Os horridos abutres, feyos lobos,
Porcos, gallinhas, gatos, percevejos.

Vem á triste morada do trovista
Um canto lhe inspirar que cheire a bife,
Para a fama elevar dos lambareiros
Sobre as grimpas do monte Tenerife.

Vem filha do pincel do grande Alciato
Dourar os versos meus que, descorados,
Não podem atrahir Leitores sabios,
Amantes da lambança e bons guizados.

Derrama n’estas linhas desbotadas
O perfume odorante de linguiça,
Do payo portuguez, do bom salame,
Que a fome desafia, e nos atiça.

Transmuda o negro véo da escuridão,
Que a vista me detem, cerrando os olhos ;
Um quadro me appresenta em que divise
Saboroso pastel com seus refolhos.

Presuntos de Lamego, perús cheios,
Roastbifs, e leitoens, tenras perdizes,
Tostado arroz de forno, nabos quentes,
Ganços, marrecas, patos, codornizes.

Fervendo, em niveas taças crystallinas, ...
Espumante Champagne, geropiga,
O bastardo, o madeira, o porto velho—
Que tem a via lactea na barriga.