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a prorogação do armisticio, dizendo em summa ao dito José da Cunha, que já não havia rasão para semelhantes difficuldades sobre reconhecer o Duque de Anjou como Rei de Hespanha. Pelo contrario os Ministros de França nos mostraram aqui grande sentimento do procedimento da Côrte de Madrid, persuadindo-nos o escandalo, com que ficavam, e escrevendo logo a seu Amo, para que o remediasse, como v. m.ce terá visto nos nossos despachos, sem que nos propuzessem ou fizessem a menor insinuação para que se reconhecesse Filippe V, de maneira que achamos muito mais acolhimento e boa correspondencia nos mesmos francezes do que nos inglezes. As causas disto são, porque os francezes desejam agora ser reputados por sinceros nesta negociação, e os inglezes já não esperam parecel-o; antes, conforme a nossa opinião, hão de procurar presentemente bemquistar-se muito com os castelhanos para estabelecerem o seu commercio com elles, e os desunirem, se for possivel, dos francezes neste particular, o que já principiaram a conseguir, pois por hum tratado que assignou em Madrid Mylord Lexington, se estipulou que não iriam francezes a Indias de Hespanha, e ao mesmo tempo ouvimos que aos inglezes se concede mandar cada anno hum navio, a troco de que larguem Gibraltar. Destas e de outras reflexões, conducentes para a mesma conjectura, vimos a inferir que se fosse possivel melhorarmos a negociação com os castelhanos (o que não deve esperar-se) seria mais facil, em ordem à segurança da nossa barreira, alcançarmos os bons officios da França do que os de Inglaterra, e nós o entendemos tanto assim que ha dias, que nas practicas com os Ministros Francezes procuramos persuadir-lhe, que pois que já estamos pela nova paz, tam amigos como d'antes eramos; que pois que França não recebeu de nós nesta guerra damno ou prejuizo algum, e ha tanta rasão que nos consideremos naquella antiga e estreita amisade, com que nos correspondiamos; e que pois que as cessões reciprocas dos Principes da Casa de Bourbon provam que, acabada a vida de El-Rei Christianissimo, aquellas duas Corôas não hão de ser tam conformes como agora se acham, era muito do interesse de França cuidar tanto na segurança de Portugal, que não podesse jamais ser opprimido pelas forças superiores de Castella: que estavamos vendo como França encher-a de dominios e praças as varias potencias que tantas vezes tinham sido suas inimigas, e que com quanta mais rasão devia fazer-nos o beneficio de deixar-nos duas pequenas praças; que todos os dominios de Hespanha, que El-Rei Christianissimo havia dado aos mais alliados, podiam algum dia converter-se em seu prejuizo, mas que as duas praças que nos deixasse, nunca podiam prejudicar a