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junto de um dos vossos alliados[1], de um caracter reconhecido tacitamente na vossa nação, e cujas qualidades pessoaes foram sempre honradas em todos os paizes onde viveu. A sua leitura não me deixou duvidar ou hesitar um momento sobre o meu proceder. Devo sacrificar-me pela honra da minha Côrte, que nunca me encarregou de projecto algum contrario aos interesses da Republica Franceza. Devo repellir até a suspeita de ser auctor ou cumplice de uma conspiração, de qualquer natureza que seja. Devo preferir, e prefiro o encerramento a justificar-me, sem a mesma publicidade que teve a minha prisão, e a imputação sobre que esta se fundou. Peço portanto ao Directorio Executivo que me conserve preso, até que me justifique de um modo evidente. Quero que seja plena esta justificação, ou que o Directorio Executivo declare que depois de me haver mandado prender como indiciado de conspirar, se provou que tal accusação é da maior falsidade. A infracção dos principios do direito das gentes contra a minha pessoa, d'esses principios fundados na utilidade reciproca das nações e consagrados pela razão, faz-me antever que talvez se leve essa mesma infracção até a leitura dos meus papeis; mas entre todos os sentimentos a respeito de tal violação, contra que é do meu dever reclamar, tenho a certeza de que n'isto encontraria pessoalmente a vantagem da mais completa justificação. N’esses papeis ver-se-hão sómente provas positivas contrarias ao que a intriga e a impostura tiveram a audacia de me imputar perante vós.

Pela força da demonstração é que quero convencer o Directorio Executivo e a Europa inteira da pureza do meu procedimento, das minhas intenções, e confundir todos os meus calumniadores.

Torre do Templo, 11 de Janeiro de 1798. — 22 Nivose, anno 6.°

O Cavalheiro de Araujo[2].

  1. Era Enviado Extraordinario e Ministro Plenipotenciario de Portugal junto da Republica Batava.
  2. Sr. Biker, Suppl á Coll. de Trat., Tom. XII pag. 201.