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assegurar uma benefica influencia no momento de um desenlace, de que nem a honra nem o interesse do Governo Inglez consentem que elle seja expectador passivo e indiflerente.

Ora o Governo Inglez não póde enviar um ministro a Portugal senão acreditando-o junto do Governo que ha em nome da Rainha, e a presença de Lord William Russell n'este caracter daria a Sua Magestade Imperial a mais viva satisfação.

Mas o movimento de passar além do systema da neutralidade podera chegar, ou, para melhor dizer, parece ter já chegado. 0 Governo Inglez não pode deixar que se prolongue uma guerra civil, que elle acabará com uma só palavra, e que no estado actual das cousas poderá durar ainda por muito tempo. Elle não póde continuar a ficar neutral entre dois Governos Portuguezes, um no Porto e o outro em Lisboa, assim como ficou emquanto um d'esses Governos existiu nos Açores e o outro em Portugal.

A duração indeterminada do bloqueio de Lisboa, e successivamente dos outros portos da costa de Portugal, e os prejuizos que d'ahi resultarão para o commercio estrangeiro, são motivos sufficientes para justificar e até exigir a intervenção da Inglaterra, se outras considerações, ainda mais elevadas, de humanidade e de politica, lhe permittissem ver com indifferença o resultado d'esta luta sanguinolenta, que, se terminasse desgraçadamente a favor do Infante D. Miguel, faria retrogradar por um seculo a civilisação de Portugal, e exerceria talvez uma funesta influencia sobre todo o meiodia da Europa.

Chegou a occasião para o Governo Inglez de encarar esta questão de um alto ponto de vista, e de a decidir sem demora, porque essa occasião pode escapar e elle arrepender-se de a não ter aproveitado.

Terminando este Memorandum, acrescenta-se, não como um motivo que possa influir sobre a resolução de Sua Magestade Britannica, mas como um facto que não será indifferente ao commercio inglez, que Sua Magestade Imperial o Duque de Bragança aboliu espontaneamente todos os monopolios, e cassou todos os privilegios exclusivos de que gosava a companhia dos vinhos do Porto, que deram

logar durante tão longo tempo a tantas reclamações da parte da Inglaterra, e a tantas ínuteis discussões entre os dois Governos[1].

  1. Sr. Reis e Vasconcellos, Despachos do Duque de Palmella, T. 4 p. 752. Por Odicio do Marquez de Palmella, datado de Londres em 8 de Agosto do mesmo anno, consta que este habilmente redigido Memorandum foi effectivamente entre-