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mais sans; e para não accumular exemplos escusados, e fazer ver quanto é universal o sentimento que inspira as auctoridades desejosas de acertar na escolha dos seus representantes, lembraremos um costume antiquissimo do extremo Oriente, cuja civilisação todavia pouco tem de commum com a nossa. Era pois pratica dos reis de Java e das ilhas d'aquelle archipelago, empregarem mulheres para o desempenho das suas embaixadas; porisso que, segundo disseram os indígenas a Fernão Mendes Pinto, «ao genero «feminino, pela brandura da sua natureza, dera Deus mais «affabilidade e auctoridade e outras partes para se lhe ter «mais respeito que aos homens, porque são secos, e por «essa razão menos agradaveis á parte onde se mandaõ.» Mas para que a mulher escolhida (continua o author) «possa «fazer bem feito o negocio que se lhe encommenda, não «ha de ser solteira ...... ..; mas casada de legítimo marido» (e em seguida referem-se os motivos). Isto a proposito de uma das taes embaixatrizes, certa Nhay Pombaya, dama de seus sessenta annos, que Fernão Mendes vira chegar a Çunda, e a cujo desembarque assistira o Rei da terra fazendo-lhe grandes honras[1].

Apesar do variam et mutabile semper femina, a que Francisco I e tantos outros tem subscripto, inclusivamente o nosso Francisco de Moraes, quando diz que ater pouco assento é condição de mulheres, no qual, além d'isso, nunca perde ensejo de arremessar as suas farpas contra o bello sexo[2]; e embora a constancia e a firmeza sejam duas qualidades das mais preciosas do diplomata, é todavia certo que as mulheres têem mostrado, bastantes vezes, grande e especial aptidão para as lides diplomaticas; como se conhece

  1. Peregrinações, cap. 172.
  2. Cron. de Palm. P. II c. 82, et passim.