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São formalidades que tinham e têem a sua razão de ser. Aquella politica seria apenas uma leve offuscação da sinceridade em beneficio da polidez, cortezia e boa convivencia. De resto, quem na hypothese nada quer ceder a uma tal exigencia, cale-se ao menos; mas não apoie por muito que mereça a sua approvação.

A par do bom gosto, a vaidade e a affectação nas suas diversas modalidades; eis o que se ve e se tem visto sempre no grande palco da convivencia humana, sendo o que tambem naturalmente se encontra na esphera mais restricta dos círculos diplomaticos. Se ali ha antipathia entre essas duas causaes, o mesmo acontece aqui.

O vaidoso e petulante, se não tiver grande maestria em contrafazer-se, ou um dominio absoluto sobre si, o que não é da sua essencia, mas que, sendo adquirido por força de vontade, significaria emenda de defeitos e o triumpho da virtude, que o collocaria fora do caso supposto — o vaidoso e petulante, pois, em vez da paz que deveria ministrar, achar-se-ha sempre em conflicto. Assim aconteceu a Rainero Zeno, embaixador Veneziano em Roma, nos pontiticados de Gregorio XV e Urbano VIII, tão cheio de si, que até no proprio relatorio, dirigido ao Senado em 2 de novembro de 1623, não duvidou affirmar que com duas palavras reduzira a nada os argumentos do Santo Padre; que a Divina Magestade lhe dera o talento de penetrar os pensamentos reconditos dos homens mais reservados; que o sobrinho do Papa se persuadira a final de que com elle, Zeno, não havia meio de manter illesa a sua presumpção de ser impenetravel a todos, e que nada temia tanto como o «fracasso» que elle,

Zeno, faria, e o «retumbar» dos seus protestos, etc.[1] Este

  1. Hanke, Appen. n.° 103.