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typo não caducou de todo; temos encontrado d'elle um ou outro exemplo.

Escusado é dizer que os excentricos não são bons modelos a seguir. Um chefe de Missão, conhecido outr'ora no Rio de Janeiro, e depois em Washington, tinha por costume fazer do dia noute e da noute dia; ao ponto que ulteriormente se tornara invisivel desde a madrugada até ao sol posto, tendo a casa aberta e illuminada em quanto não assomasse a aurora. O incommodo para outrem é facil de imaginar! Excentricos d'esta ordem estariam para a côrte onde residissem quasi na mesma relação que certo povo para a sociedade antiga em geral. Segundo Xenophonte, os Mosynæcos faziam em publico o que os demais povos só se permittem ás portas fechadas; fazendo pelo contrario a sós comsigo o que os outros costumam praticar diante de testemunhas[1].

A respeito de certo chefe de Missão, cujo conhecimento pessoal só fizemos annos depois de elle se achar fora do serviço, ouvimos diversos casos referentes à sua mania de matar gatos com uma espingarda de sala, sem se importar com o risco que corriam os vizinhos. Era tão dextro no manejo da arma, e n'esse ramo do exercicio venatorio, que nenhum gato lhe apparecia debaixo das janellas sem deixar ali a vida; era uma verdadeira matança dos innocentes animaes, tendente a exterminar na localidade a raça felina. As advertencias das authoridades de nada serviam, até que um dia, segundo ouvimos, houve motim e assuada do povo em frente da Legação.

Les esprits forts savent-ils qu'on les appelle ainsi par ironie? diz La Bruyère, com referencia aos incredulos. O

mesmo se póde dizer com applicação ao bel-esprit, ao beau-

  1. Anab. L. V c. 4.