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ções, com tanto que chegassem ao seu destino, ficariam no gabinete do rei sem serem devassadas.

Assim, em 4 de outubro de 1534, com referencia ao conclave que estava a ponto de se reunir para a eleição de um novo papa, escrevia de Roma a el-rei D. João III o Embaixador D. Henrique de Menezes, o seguinte: «e se o Deus escolhesse, por sem duvida teria eu o meu bom despacho; mas hão-no d'escolher trinta e seis diabos que tantos são os cardeaes que n'isso agora hão d'entrar[1]

Mas nem assim se julgava o Agente livre de perigo, no caso de se abrir demasiado: «estas e outras cousas, que se nom podem escrevem» «nom tenho mais que escrever a Vossa Alteza neste negocio, tendo muito que dizer,» são phrases d’esse mesmo D. Henrique de Menezes sob data de 6 de outubro de 1535, o qual allude ao risco que corria de ser envenenado[2]; allusão que repete em carta de novembro seguinte, observando: «porque ca ha um Rio, a que chamam o tybre, onde se lançaram já muitos homens mylhores que eu, e ha tambem peçonha com que se despacharam outros mais honrados[3]

No Argenis, romance político do seculo XVII de João Barclay, Meleander (nome supposto de Henrique III de França), ao despachar o seu embaixador á rainha Hyanisbe (Isabel

de Inglaterra), recommenda-lhe com instancia que se não

  1. Rebello da Silva, Corp. Dipl. Port. T. III p. 7. — Veja-se tambem a carta do Dr. João de Faria de 21 de fevereiro de 1513; ibid., T. I p. 190. — No relatorio de um embaixador Veneziano, datado de 1510, affirma-se que o Papa dizia do Imperador: E una bestia; merita piu de esser rezudo ch'a rezer altri, Vid. Ranke. Append. N.° 5. É verdade que n'aquelles tempos a linguagem era mais franca.
  2. Veja-se aliás toda a ultima metade da carta, assaz instructiva no ponto sujeito; Rebello da Silva, ’'Corp. Dipl. Port. T. III pp. 252 e seg.
  3. Ibid. T. III p. 275.