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memoria, todos ou quasi todos se deram com chefes de Missão bisonhos em diplomacia.

É claro que, n'uma conversa previa, podemos muitas vezes descobrir o animo da outra parte no ponto sujeito, ou ver a questão a outra luz, dando depois a nossa argumentação escripta um rumo que até ahi nos não tinha occorrido, mas conduzindo ao mesmo fim, pelo que poupamos tempo e adiantamos o negocio. Ou d'ahi póde provir não só a duvida ou a certeza de não estarmos ainda de todo preparados a encetal-o, mas tambem a convicção da conveniencia de aguardarmos novas instrucções do nosso Governo; ou mesmo proporcionar-lhe o meio de desistir, querendo, de um proposito que, em logar de bom exito, só promette complicações. Basta as vezes uma palavra do nosso interlocutor, para nos desviar do precipicio que nos aguardava, se de prompto tivessemos formulado officialmente por escripto o que traziamos em mente. Essa palavra nada nos diz de positivo; mas a luz que derrama bastará talvez para nos induzir a meditar o assumpto com mais pausa, ou dar-lhe outra direcção.

Ao fechar este capitulo, é caso de lembrar o apophtegma Verbum sat sapienti, tão apropriado ao Diplomata, não só como aviso e preservativo, senão tambem n'outro sentido mais lato, de complemento. Assim como o habil paleontologo construirá de um simples femur, o animal inteiro de alguma especie extincta ; assim tambem sera pericia no Negociador se souber, pela prompta percepção, acabar na sua integra uma phrase troncada, uma idea informe ou meio insinuada.