Oh pernicioso Amor, cruel Deidade,
Flagélo da infeliz Humanidade:
Tudo, emfim, descançava, excepto Elmano,
Que a mão do Fado, universal Tyranno,
Sentia sobre si descarregada;
Que, longe da Paterna Choça amada,
Dependente vivia em Lar estranho,
Sendo os desgostos seus o seu rebanho.
Honrados Maioraes o Ser lhe derão
Lá junto ao Sado ameno, e lhe fizerão
Das Artes cortezãs prezar o estudo:
As Musas o encantárão mais que tudo,
Ateando-lhe n'alma o Fogo santo,
Que estúpidos Mortaes desdenhão tanto.
Inflammado com elle, ao som da Lira
Quebrava dos Tufões a força, a ira,
E o venerando Téjo socegado,
A cuja fresca praia o trouxe o Fado,
Mil vezes, para ouvir-lhe as ternas mágoas,
A limosa cabeça ergueo das Agoas.
Cégo, convulso, pállido, e sem tino
Entrava na Cabana de Francino
O desditoso Elmano. Entre os Pastores
Geral estimação, geraes louvores
Francino com justiça disfrutava:
Alto saber, o Espirito lhe ornava,
Na vasta Capital fôra creado,
E por expertos Mestres cultivado.