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I.JORNAL DOS INTERESSES PHYSICOS , INTELLECTUAES , E MORAES. Collaborado por muitas sabias e litteratos—redigido por Sebastião José Ribeiro de Sá.lettras, sendo uns caracteres mor-tos, e não animados, contem em si es-pirito de vida pois a dão acerca de nós a toda las cousas. (Prologo da Asia de João de Barros.) O —jornal — é a cousa mais importante da era em que vivemos. Fallece-nos o animo, sentimos que a mão nos treme, escrevendo as primeiras linhas do septi- mo volume da Revista Universal Lisbonense. Assombra-nos a elevada e difficil missão, que tivemos a ousadia de acceitar. O Publico talvez veja com admiração um no-me obscuro, estampado na frente do jornal, onde brilhou o do Cantor da Primavera, o do pintor insigoe dos Quadros Históricos. Esta anomalia impòe-nos o dever de expli¬ carmos a nossa posição; revelando o pensamento que nos dirige. O que parecerá vaidade, foi um sacrifício; e onde cuidem que vimos a gloria, só divisamos a satisfação de sermos úteis á Patria, ao menos, por meio de bons desejos.

  • Âo cabo dc seis annos de publicação, a Re¬

vista ia volver aos braços do pae , que tanto se desvelara pela sua gloria ; mas as criticas circuns¬ tancias, por que temos passado, arremeçaram para longe das praias do Tejo o fundador deste jornal. O Sr. Castilho foi buscar fóra do continente de Portugal a sua subsistência e a da família que tanto ama! A pobreza do distincto Escriptor é um titulo honroso, que ainda mais o cnnobrece. O Sr. Castilho prestou, entre outros muitos, dons serviços a esta nação ingrata. Em quanto os porluguezes , cegos pelos odios das contendas civis, esqueciam os altos feitos do passado, —elle sacava í luz do dia, ns jóias mais preciosas do magesloso diadema, que a fé, o va- DKZaMRUO — d — 1Ô47# lor, e a honra dos nossos maiores conquistaram para a Patria. Tam grandiosa empreza não ia em meio, quan¬ do todos viram o historiador distincto, o poeta estimadissimo, descer das alturas, onde a fama o elevara, para ir sentar-se á meza da redacção de um jornal scientifico e litterario. — Para realisar tam util pensamento, cercou-se dos sábios e lit- teratos, que o seu exemplo chamara a tam mo¬ desto mister; dizemos exemplo, por que antes da Revista se publicar , só pouquíssimas vezes os escriptores mais illustres se dignaram escrever nos jornaes populares. O Sr. A. Herculano, no Panorama, era uma excepção, que, por muito honrosa , ninguém a terá esquecido. Aos decanos da vida litteraria, juntaram-se os mancebos, animados por uma voz que os arre- botára , e auxiliados pelos concelhos que nunca lhes faltaram.— Foi assim que esse homem pro¬ vou que tinha visto o que ainda ntó hoje todos não viram — a necessidade de instruir Portugal, distinguindo nas trevas a causa de muitas des¬ graças. — Olhára para a terra natal com os olhos da alma e por isso via com tanto acerto. A Revista nasceu na mui nobre oíficina do pintor dos Quadros Históricos. E foi este o homem que na maior força da vida, viu ante si e os seus o spectro da miséria ! Morreriamos de vergonha se não truncassemos aqui a justa accusação, que sem o querer, es¬ távamos fazendo á terra, onde Camões morreu ao desamparo, e onde ainda hoje não tem um mo¬ numento ! A Redacção da Revista, quando o Sr. Casti¬ lho se viu forçado a deixar Lisboa, era um re¬ curso tardio além de incerto , porque o tempo não ajudo muito-emprezas desta natureza. O que fica dito explica bem que a Redacção deste jornal é hoje um sacrifício: — Oxalá que um YüL. VII,—SKRIJS I, v