19

Do seu unico amor, — um ideal proscripto
Na treva do passado, um dédalo infinito.
Dirá que a sua amante era bella e franzina,
Que tinha o cóllo branco, as fórmas d'uma ondina
E no labio impolluto um sorriso candente,
Vermelho como a côr que tem o sol ponente.
Cogitará depois como é que nasce a aurora
De esp′erançosa illusão e como se evapora
No occaso sepulchral das coisas invisiveis!
— A esperança e a illusão são sempre marcesciveis.
Só temos dentro em nós um incola immudavel,
Chamado soffrimento, enorme, perduravel,
Nasce e morre comnosco e, seja breve ou longa
Nossa estada na terra, elle nunca nos deixa!
Se é larga a nossa vida a d′elle se prolonga,
Só fecha os olhos seus se o nosso olhar se fecha!

II


Amor!...
Existirá quem saiba comprehendel-o,
A elle, ao grande deus de tudo quanto é bello?
O mar, o luctador incessante e inclemente
Terá um coração que pulse ternamente,
Quando retracta em si, por noites de bonança,
Da lua o rosto amigo?
O seu bramido enorme
Será um grito d′alma a invocar a esperança?
Aquella furia ingloria e cruel que o consome