102
ultimos cantos.

Não te quizera no throno,
Onde a mascara do rosto,
Cobrindo o interno desgosto,
Ser alegre tem por lei;
Manda Deos, sim, que o rei chore;
Mas que chore occultamente,
Porque, se o soubera a gente,
Ninguem quizera ser rei!

Mas o vate, quando soffre,
Modula em meigos accentos,
Seus doridos pensamentos,
A sua interna afflicção,
E das lagrimas choradas
Extrahe um balsamo sancto,
Que vale estancar o pranto
Nos olhos do seu irmão.

Se eu fôra rei, não quizera
Roubar-te á senda florida,
Onde corre doce a vida
No matutino arrebol;
Gosas o sopro das brisas
E o leve aroma das flores,
E as nuvens, que mudão cores
No nascer, no pôr do sol.