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trela á lingua e falou do officio com muita psychologia e psychologia melhor do que a que um romancista põe num romance maçador. Tambem narrou a sua vida desde menino, a grumetagem no "Puru's", a sua paixão pelo mar e, por fim, a entrada para o pharol aos vinte e tres annos de idade.

— "Porque, assim tão moço?

— "Caprichos do coração, má sorte, coisas... respondeu com ar triste; e accrescentou após uma pausa, mudando de tom:

— "Pois a vida é cá isto que vê. Boasinha, hein? Entretanto, boa ou má, temos, os pharoleiros, um orgulho: sem nós, essa bicharada de ferro que passeia n'agua fumando seus dois, seus tres charutos..

— "Lá vem um! — interrompeu-se, fisgando com a luneta uma fumaça remota.

— "Bandeira allemã, duas chaminés, rumo sul. Ha de ser um "Cap", o "Trafalgar", talvez. Seja lá que diabo fôr, vá com Deus. Mas como ia dizendo, sem os pharoleiros a manobrar a "optica" esses comedores de carvão haviam de rachar atoinha ahi pelos bancos. Basta cahir a cerração e põem-se elles tontos, a urrar de medo pela bocca das sereias, que é mesmo um cortar a alma á gente. Porque, então, nem pharol nem caracol. E' a cegueira. Navegam com a morte no leme. Fóra disso salva-os o foguinho lá de cima. Pouco antes da minha entrada para aqui houve desgraça. Um cargueiro do "Bremen" rachou o bico alli no Capellão... Quem é o "Capellão?" Ah! ah! o "Capellão!" Pois o "Capellão" é o raio da terceira pedra a boreste. São tres deste lado, a "Menina", que é a primeira, a "Gurutuba" que é a do meio. A criminosa é o "Capellão" que reponta mais ao largo e só mostra a corôa nas grandes va-