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gando n'um caixote expiatório um murro de fender pinho. Depois:

— "O mundo é tão grande, ha tanta gente no mundo, e cae-me aqui o unico companheiro que eu não podia ter...

— "Porque?

— "Porque?... Porque... é um louco.

Entre o primeiro e o segundo "porque" notei transição radical. Dubio o primeiro, o segundo afigurou-se-me resoluto, como illuminado pelo clarão de uma ideia brotada no momento.

Desde esse dia nunca mais Gerebita abandonou o thema da loucura do outro. Demonstrava-m a de mil maneiras.

— "E aqui, onde os sãos perdem a tramontana, — argumentava — um já assim rachado de telha aos tres por dois rebenta como bomba em fogueira. Eu jógo que não vára o mez. Não vê os seus modos?

Metade por suggestão, metade por observação leviana, razoavel me pareceu a prophecia, e como Gerebita sem cessar malhasse na mesma tecla, acabei por convencer-me que o casmurro era um fadado ao hospicio, com pouco tempo de equilibrio nos miolos.

Um dia Gerebita abordou a questão nestes termos:

— "Quero que o senhor me resolva um caso: estão dois homens sós n'uma casa; de repente um enlouquece e rompe, como cação esfomeado, sobre o outro. O outro deve deixar-se matar como um porco ou tem o direito de atolar a faca na garganta do bicho?

Era por demais clara a consulta. Respondi como um rabula positivo:

— "Se Cabrea enlouquecesse e te aggredisse, não havendo soccoro á mão, matal-o seria um direito natural de defesa. Matar pa-