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elle teve igual; oh! o vinho, o bom vinho, nós o beberemos á vontade, oh! o vinho, o bom vinho, n’elle não acharemos preguiça.»

Chamam o vinho preguiçoso quando não tem força bastante para embriagal-os immediatamente, e que não lhes provocam o vomito por mais que bebam.

Tomam as raparigas parte n’esta festa, onde se dança e canta-se á fartar, deitam-se os que se embriagam logo e raras vezes apparecem questões: são alegres e agradaveis n’essa occasião, especialmente as mulheres, que fazem mil macaquices á ponto de provocarem grande hilaridade, até a individuos mais tristes e melancolicos. Por mim confesso, que nunca em minha vida me ri tanto como quando estas mulheres altercavam umas com as outras, empunhando copos de madeira cheios de vinho, bebendo ora um, ora outro, fazendo muitas macaquices e tregeitos.

Dão com muita facilidade o que mais presam, como sejam suas filhas e suas mulheres, porque observei quando se cuidou na segunda viagem do Miary que muitos Tupinambás tanto da Ilha do Maranhão, como de Tapuitapera, foram de proposito com os Francezes para pedirem filhas e mulheres dos Miarinenses, o que facilmente obtiveram, como muitas outras coisas, que só fazem estes povos, e por isso mesmo muito caros e preciosos entre os Tupinambás.

Tambem tem por costume, que igualmente observei entre os Tupinambás, o trazerem assobios e flautas, feitos dos ossos das pernas, coxas e braços de seos inimigos, dos quaes arrancam sons fortes, agudos e claros, e ao som d’elles entoam seos cantos usuaes, especialmente quando estão nos Cauins, ou quando vão a guerra.

As raparigas não se despresam em casar com velhos e grisalhos, como praticam as dos Tupinambás, e sim antes querem esposar um velho, especialmente quando é Principal, e admirei-me, como coisa desagradavel, o vêr muitas jovens, de quinze a deseseis annos, casadas com velhos, e o contrario praticam as raparigas dos Tupinambás, as quaes