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As raparigas escravas, que não se casão, dispoem de si como querem, si por ventura seos senhores não lhe prohibem relações com certos e determinados individuos, porque então em caso contrario soffrem muito; mas quando seos senhores lhe impoem completa abstinencia, ellas lhe dizem bem claramente, que então as tomem por mulheres visto não querer, que alguem as ame.

Devem os escravos trazer fielmente o resultado da sua pescaria e caçada, e depôl-o aos pés do seo senhor ou senhora, para elles escolherem e depois lhes darem o resto.

Não podem trabalhar para outrem sem consentimento do seo senhor, e nem dar seo rebanho, que lhes deo o senhor, sem lhe dizerem antes uma palavra, pois de outra forma pode ser tomado como coisa, que não pertence legitimamente aos escravos.

Não devem passar atravez da parede das casas, somente feita de pindoba, ou de ramos de palmeira, ao contrario são criminosos de morte, porque devem passar pela porta, commum, ou atravez da parede de palmas.

Não devem fugir, porque quando são agarrados, está tudo perdido, visto que são comidos: n’este caso já não pertencem ao senhor, e sim a todos, e para este fim quando se prende um escravo fugido, sahem da aldeia as velhas, vão ao seu encontro, e gritando dizem «é nosso, entregae-nos, queremos comel-o», e batendo com a mão na bocca, gritam uns para os outros com certa expressão «nós o comeremos, nós o comeremos, é nosso.»

Vou dar-lhes um exemplo:

Um guerreiro Principal da ilha do Maranhão, chamado Ybuira Pointan,[NCH 33] quer dizer, Pau brasil, ao regressar da guerra trouxe comsigo alguns escravos, dos quaes um procurou salvar-se pela fuga, porem sendo agarrado, foram as velhas ao seu encontro batendo na bocca com as mãos, e dizendo «é nosso, entregae-o, é necessario que seja comido».