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anda errante e fugitivo pelos mattos, como si fosse um javaly: quando ouve o ramalhar das arvores suspeita ser os Franceses, que armados andam em busca d’elle para prendel-o e conduzi-lo a Yviret, onde será amarrado á bocca de uma peça.»

Respondi pelo meo interprete, asseverando-lhe que empregaria os meos esforços, que tinha esperança de obter o que elle desejava porque o chefe me estimava; mas que era bom, que elle fosse pessoalmente fazer seo pedido, e que eu iria depois delle.

Foi immediatamente ao Forte em companhia de um dos principaes interpretes da Colonia, chamado Migan,[NCH 35] e expôz suas razões e rogos ao senhor de Pezieux, por esta fôrma.

«Sou um Pae muito infeliz, e acabarei minha velhice como os javalys, vivendo só, comendo raizes amargas e cruas, se de mim não tiveres piedade.

«A misericordia muito convem aos grandes, e maiores não podem ser, quando usam d’ella e de clemencia.

«É teu rei o maior do Mundo, como nos contam os nossos, que estiveram em França.

«Elle para aqui te mandou como um dos Principaes da sua côrte afim de nos livrares do captiveiro dos Peros: ora como és grande, e misericordioso, usa de misericordia para com os infelizes, que são desgraçados por acaso e não por malicia.

«Bem conheço, que é preciso ser justo, e indagar o motivo para se fazer a escolha, e proceder-se a vingança sobre os maus, o que mui restrictamente observamos entre nós, desde os nossos paes, mas quando a falta não é originada por maldade nós perdoamos.

«Tenho dois filhos, como sabes, os quaes tem vindo trabalhar no teo Forte, um matou o outro por acaso e sem maldade, ou para melhor dizer, suicidou-se o mais velho nas flechas do mais moço, que está vivo, e te peço que não o persigas e sim o perdôes.