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por certo homens mais felizes no mundo por causa de sua natural franqueza e liberdade, que, adubando as suas carnes as transformam em perfeita e saudavel nutrição, e d’ahi provem a bellesa de seos corpos.

Espero a objecção para responder — isto é, de se terem visto muitos indios sordidos e horriveis. Respondo: não é no rosto, onde se deve observar a forma e a bellesa de um homem, e eis a razão porque Demostenes zombou, quando os embaixadores de Athenas regressando de sua commissão junto a Philippe, Rei de Macedonia, gabavam muito a formosura d’elle: não, não, disse Demostenes, não é digna de louvor a belleza do rosto de um homem, tão commum entre os Cortezãos, porem merece encomios a sua estatura, a proporção de seos membros, e a sua figura e elegancia.

Fallo de haver a naturesa dado ordinariamente aos selvagens, e especialmente aos Tupinambás, corpo bem feito, bem proporcional e elegante, e quando estragam seos rostos por incisões, fendas, e extravagancias de pinturas e de ossos, o fazem pela ideia erronea, que tem, de serem por isto reputados valentes.

Tem muito cuidado na limpesa de seos corpos: lavam-se muitas vezes, e não se passa um só dia, em que não deitem muita agua sobre si, em que se não esfreguem com as mãos por todos os lados para tirar o pó e outras immundicies.

Penteiam-se as mulheres muitas vezes.

Receiam emmagrecer, o que chamam em sua linguagem angaiuare, e lastimam-se diante dos seos semelhantes dizendo Ché-angaiuare, «estou magro,» e todos se compadecem mormente quando chegam de qualquer viagem abatidos pelo trabalho: todos o lastimam e o deploram, dizendo Deangoiuare seta, «ah! quanto está magro, só tem ossos.»

Eis a causa unica por que não podiam residir comnosco os rapazes baptisados, visto temerem muito as mães, que não emagrecessem em poder dos Francezes, os quaes suppunham ter falta de tudo.