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sejam viados, corças, javalis, vacas-bravas, e diversas especies de tatús, muitos coelhos e lebres, iguaes ás de França, porem mais pequenas, immensa variedade de passaros, como sejam perdizes, faisões, mutuns,[NCH 54] pombas bravas, trocazes, rolas, garças-reaes, e outras admiraveis.

A terra produz raizes tão grossas como a coxa: o tabaco petum ahi cresce forte e optimo, e dizem que dá duas colheitas por anno.

O milho cresce forte, cheio, e dá muitas espigas.

Ha fructas muito melhores, e em maior quantidade do que na Ilha, em Tapuitapera, e Comã, papagaios de varias côres e diversos tamanhos, notando-se entre elles os Tuins,[NCH 55] do tamanho de pardaes, os quaes aprendem com facilidade a fallar, porem morrem de mal quando são levados para a Ilha: vi entre muitos salvarem-se apenas seis, os quaes comendo, cantando, e dançando em suas gaiolas, sem apparencia de molestia, davam duas ou tres voltas e morriam logo.

Ha tambem muitos macacos e monos barbados, bonitos e raros, e que seriam muito apreciados em França, se lá chegassem.

Ahi residia um barbeiro ou feiticeiro muito bem arranjado e com todas as commodidades.

Tinha vindo, um pouco antes d’esta viagem, fazer suas feitiçarias e nigromancias para ganhar o vestuario e a ferramenta dos selvagens do Maranhão e leval-os comsigo quando fosse para a sua terra. Estas feitiçarias eram diversas.

Tinha uma grande boneca, que com artificio se movia, especialmente com o maxilar inferior; dizia elle ás mulheres dos selvagens, que si desejavam vêr quadruplicada a sua colheita de grãos e legumes trouxessem e dessem á ella alguns d’estes generos, afim de serem mastigados tres ou quatro vezes, e por esta forma recebendo a força de multiplicação do seo espirito, que estava na boneca, podiam depois