Não deixam de ir ahi em certo tempo os Tupinambás para tirar do ninho os filhótes e os ovos meios chocos, havendo abundancia impossivel de descrever-se, levando, quando regressão á villa, provisão para dois mezes, preparando antecedentemente uns assados, e outros seccos e duros como paus, o que nunca me agradou, e a fallar verdade, nunca pude comel-os, embora sejam para os selvagens o primeiro prato, e bem delicioso. Logo contarei alguns uzos particulares, e bem notaveis, d’estes passaros.
O terceiro motivo é para colher o ambar-gris, chamado pelos Tupinambás Piraputy «excremento de peixes,»[NCH 63] por que elles pensam ser o ambar-gris o excremento das baleias, ou de outros peixes iguaes em corpulencia, o qual vindo á tona d’agoa, é pelas ondas atirado a essas praias.
Dizem alguns francezes não ser o ambar-gris outra coisa mais do que a «flor do mar,» a que os selvagens chamam Paranampoture, ou uma certa gomma do mar, Paranamussuk.
Decida o leitor como lhe aprouver.
N’estas areias encontra-se o ambar-gris em massa, mais n’um tempo do que n’outro, e algumas vezes chega a massa a tal tamanho e grossura, que merece ser guardada n’algum gabinete real, não podendo ser justamente apreçada e vendida. Acontece as vezes virem poisar sobre ellas todos os bixos, passaros, carangueijos, lagartos, e outros reptis d’ahi, das circumvisinhanças, e do mar, e com elles as vêem procurando-as com cuidado, e por isso são essas grandes massas partidas em varios pedaços.
Aconselhei a elles, que ahi fizessem um Forte não só para impedirem as correrias dos Tremembés, como para tapar a entrada aos navios, que buscam a Ilha de Sant’Anna afim de colherem o ambar-gris; não ha duvida, que o mar atira muitas vezes sobre estas areias o ambar, que por ahi espalhado é comido por animaes, passaros e reptis, pois os selvagens da Ilha ahi vão apenas duas ou tres vezes durante o anno.