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francezes, e regressando depois á sua terra tomando todo o cuidado para não ser descoberto o caminho que seguiam.

Chegaram defronte de Tapuitapera, onde então se achava o interprete Migam, que apenas soube da chegada d’elles foi ao seo encontro no mar, e com o seo Principal fallou por muito tempo.

Interrogou-o o Principal acerca dos Padres, quem eram, o que faziam e ensinavam: á respeito dos francezes, quaes suas forças, e mercadorias, si era certo terem conciliado os Tupinambás com os Tabajares, e si viviam em paz na Ilha.

Respondendo o interprete a tudo isto, como devia, ficou satisfeito e assim o disse, asseverando que o mesmo aconteceria a seo Rei e a sua Nação, porque todos desejavam aproximarem-se dos francezes para conhecerem a Deos, terem machados e foices de ferro, com que cultivassem suas roças, e estivessem sempre em guarda contra os seos inimigos, plantando muito algodão e outros generos para offerecerem, como recompensa, aos francezes, aos quaes apenas pediam alliança e protecção.

Perguntou-lhes o interprete, si era grande sua nação, e si estava muito longe, ao que respondeo affirmativamente, marcando a distancia por legoas pouco mais ou menos, que podiam haver da Ilha á sua terra, mostrando com os dedos o numero de luas, isto é, de mezes, que eram necessarios para regressarem ao seo paiz, e accrescentou «não te posso dizer o logar da nossa habitação, porque meo Rei assim me prohibio, e tambem porque receiamos, que si nos faça guerra. D’aqui ha seis mezes regressarei para te dar certas noticias, e podes dizer ao teo chefe, que sendo verdadeiras as tuas informações viremos morar por aqui perto.»

O interprete respondeo — «vem, te rogo, vêr o Fórte, que fizemos, as grandes peças, que montamos sobre suas muralhas, e os francezes, que as guarnecem para de tudo dares noticias á teo Rei.»