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e por isso vemos no Brazil ser differente a epocha e a força das chuvas, isto é, mais depressa e mais abundante n’uma terra do que em outra.

De ordinario são as chuvas abundantes e frequentes, duradouras e continuas, mais á noite do que de dia: é o tempo proprio para semeiar-se, porque tudo nasce, cresce, produz, e dá colheitas.

Quando a terra é arenosa, e que está secca pela proximidade do Sol, ao cahir das chuvas continuas e abundantes, ella absorve admiravelmente as agoas, muda a sua secura para uma temperatura humida, que é a mãe das gerações.

São diversas estas chuvas do orvalho da noite no estio, porque tem este bom cheiro e aquellas mau, visto que provindo as chuvas do choque de expessos vapores aerios, trazem portanto comsigo a qualidade de seos agentes e a sua causa efficiente: acrescente-se ainda que a queda impetuosa das agoas sobre a terra, coberta de folhas em putrefacção ou de cinzas de paus queimados, revolve-a, e d’ella faz desprender-se, com o seo estado constante de calor natural, mau cheiro proveniente de taes objectos.

O orvalho cahindo doce e brandamente em noite serena, mais fria do que cálida, exhala cheiro agradavel, especialmente quando se derrama sobre plantas odoriferas.

É mais doentio o tempo das chuvas do que o das brisas, ou ventos de Este, porque em primeiro logar não sopram mais os ventos, e por conseguinte não purificam o ar, e d’elle não expellem vapores intensos, maritimos e aquosos, e por isso mui doentios: em segundo logar chocando-se as nuvens e cahindo as chuvas, apparecem molezas no corpo, doenças de coração, desarranjos do estomago, enfraquecendo-se os nervos, e infiltrando-se os ossos de humidade o que não apparece no tempo das ventanias, que limpam o ar, o mar, e a terra.

3.º Os trovões e relampagos são, sem comparação alguma, mais fortes e frequentes no Brasil do que no mundo velho,