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suas raizes dentro e fóra da terra por ahi chupam muita agoa e sobrevindo o calor transforma a humidade em corpo solido.

As arvores estão sempre verdejantes por successão diaria e continua de folhas novas ás velhas, de fórma que, sahindo aquellas dos olhos dos ramos vão logo por força propria attrahindo a seiva, ficando d’ella privada as velhas, que por isso definham e cahem.

Observamos isto no nosso corpo quando uma unha nova vem substituir a velha.

Por esta renovação de folhas conservam-se as arvores no mesmo estado, o que não vemos na Europa porque o inverno retem no interior das arvores o calor natural d’ellas: é necessario que cáiam as folhas antes da ausencia do calor, ficando só a humidade, que apodrece o pé da folha em vez de lhe dar vigor como acontecia no tempo do calor, e por tanto assim se faz a queda das folhas.

No Brazil acontece o contrario porque vivendo o calor e a humidade em boa e perpetua companhia, novas folhas nascem ao mesmo tempo que as velhas cahem: geralmente, em todas as coisas notam-se tres estados: 1.º Crescer. 2.º Permanecer. 3.º Decrescer e assim sempre até morrer: eis o que observamos nas folhas — teem tempo para crescerem, ficarem perfeitas, e depois irem definhando até cahirem seccas.

Entre estas arvores merecem especial menção em primeiro lugar os mangues, arvores, que crescem nas barreiras do mar, e espalham seos ramos, e fibras sobre as areias do mar, ou entre as pedras que cobrem o limo, ahi se fortificam, engrossam, e chegando ao seo estado completo, começam elles mesmos a deitar novas fibras, que tem igual desenvolvimento, e assim se reproduzem infinitamente, não pelas raizes, como as outras arvores, e sim pelos seos ramos.

Não sei o que mais admirar, si a successão perpetua de pae a filho, ou a geração inteiramente diversa das outras arvores.